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Fernando de Noronha ganha destaque mundial como destino de preservação marinha
O Arquipélago de Fernando de Noronha emerge das águas do Atlântico, ao largo da costa nordeste do Brasil, como uma cadeia de 21 ilhas vulcânicas. Reconhecido mundialmente por suas águas cristalinas, vida marinha abundante e paisagens deslumbrantes, a ilha principal, habitada, tornou-se um dos destinos turísticos mais cobiçados do país 

Foto: Crédito Pedro Menezes

A organização internacional sem fins lucrativos Mission Blue, dedicada à conservação marinha, tem o orgulho de anunciar o Arquipélago de Fernando de Noronha como o mais novo Hope Spot. Fabio Borges, presidente do Instituto Vida no Oceano e do Projeto Tubarões e Raias de Noronha, e Rafaely Ventura, coordenadora de projeto do Projeto Tamar, são reconhecidos como os Hope Spot Champions.
“Fernando de Noronha é um dos ambientes mais extraordinários do Atlântico tropical. Suas águas translúcidas e vida marinha abundante fazem dele um verdadeiro santuário de biodiversidade. Aqui existe um mosaico de ecossistemas em delicado equilíbrio — recifes de corais, costões rochosos, fundos arenosos, campos de algas, canais profundos e zonas de transição oceânica”, afirma a Dra. Sylvia Earle, fundadora da Mission Blue. Ela continua: “A designação de Fernando de Noronha como Hope Spot fortalece o trabalho de cientistas, instituições públicas, organizações da sociedade civil e comunidades locais que há décadas se dedicam a preservar este lugar especial.”
A geografia singular de Fernando de Noronha, como extensão de uma cadeia de montanhas oceânicas, cria ambientes ricos em nutrientes que sustentam uma impressionante diversidade marinha. As ilhas são ecologicamente conectadas por correntes e rotas migratórias a regiões de todo o Atlântico, incluindo a costa oeste da África, o Caribe e a América Central. A Reserva Biológica do Atol das Rocas, também Patrimônio Mundial da UNESCO, fica a apenas 150 km de distância, e essas ilhas criam um efeito de “degraus ecológicos” (stepping stones) para diversas espécies no Atlântico Sul. Juntas, essas áreas protegidas formam um reservatório de biodiversidade e proporcionam benefícios de transbordamento (spillover) para ecossistemas vizinhos.
Fernando de Noronha abriga duas importantes unidades de conservação: o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha e a Área de Proteção Ambiental (APA). O Parque Nacional funciona como uma zona de proteção integral (no-take), com regras rigorosas, enquanto a APA abriga os moradores da ilha e permite o uso regulado. Essas medidas protegem um dos hotspots de biodiversidade mais ricos do Atlântico Sul, com cerca de 1.500 espécies registradas de fauna e flora — incluindo 250 espécies de peixes recifais, tartarugas marinhas em desova, baleiasjubarte e golfinhos-rotadores. O arquipélago também oferece habitat essencial para 80 espécies de aves, entre elas duas endêmicas: a Cocoruta-de-Noronha (Elaenia ridleyana) e o Sebinho-deNoronha (Vireo gracilirostris).
“A beleza cênica de Noronha não deixa dúvidas: aqui, a natureza é protagonista e tem o verdadeiro potencial de inspirar todos sobre a importância de proteger o oceano e sua biodiversidade”, compartilha o Dr. Fabio Borges. Ele complementa: “Mergulhar em Noronha é uma experiência profundamente transformadora. Suas águas mornas e cristalinas acolhem os visitantes, que testemunham de perto a riqueza de cores, formas e variedade de seres vivos que só o oceano pode oferecer.”
Apesar dessas proteções, o arquipélago enfrenta pressões crescentes. Acima de tudo, o turismo descontrolado surgiu como um dos maiores desafios. O que antes era um modelo de ecoturismo de baixo impacto transformou-se em níveis insustentáveis de visitação, ameaçando a base ecológica do arquipélago. A pressão das populações residente e visitante sobre os ecossistemas frágeis é insustentável nos níveis atuais, e espécies invasoras introduzidas por humanos ameaçam a flora e fauna nativas. Reequilibrar esse cenário é essencial: sem conservação, a própria beleza cênica e a vida marinha que atraem os visitantes estarão em risco.
“Fernando de Noronha é um território singular, onde a beleza das paisagens se encontra com a riqueza da vida marinha. Suas praias intocadas e águas cristalinas compõem uma paisagem de grande valor ambiental e cultural”, explica Rafaely Ventura. “Essas condições fazem do arquipélago um dos melhores lugares do mundo para pesquisa científica, conservação da natureza e educação ambiental, preservando berçários naturais e áreas de alimentação e reprodução de espécies como tartarugas, raias e tubarões. Proteger esse patrimônio é um compromisso coletivo, garantindo que as futuras gerações possam descobrir e se encantar com a vida marinha de Noronha.”
A pesca ocorre atualmente em escala de subsistência, praticada por moradores em áreas designadas da APA, sendo considerada sustentável. No entanto, o monitoramento oficial da pesca comercial em áreas oceânicas e montes submarinos ainda é insuficiente, representando risco adicional. A exploração de petróleo continua sendo uma ameaça, pois a possibilidade de perfuração em alto-mar poderia ter consequências devastadoras para Fernando de Noronha e para a Reserva Marinha do Atol das Rocas.
“A verdadeira experiência que podemos ter aqui é aprender que a natureza e a vida humana podem coexistir e manter conexões diretas. Isso exige conhecimento e respeito, e a compreensão de que, em alguns lugares, a natureza deve permanecer intocada, enquanto em outros podemos exercer nossos hábitos de forma ordenada. Nesse sentido, a história de Fernando de Noronha mostra como as pessoas valorizam o ambiente local, seus elementos e a saúde que ele promove”, reflete Lucas Penna, pesquisador do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha. “Apesar de enfrentarmos diversos desafios ambientais locais e globais, é inegável que este arquipélago deve permanecer protegido e representa um ponto de esperança para todos nós.”
A designação de Hope Spot servirá como um reforço crucial para redirecionar o foco aos valores da conservação e ampliar a colaboração local, regional e internacional. Os planos para os próximos anos incluem expandir os programas de educação ambiental para crianças e adolescentes, aprimorar os materiais interpretativos nas trilhas e pontos de visitação, e promover a conscientização sobre a importância ecológica, cultural e econômica da conservação por meio de eventos, palestras e oficinas. Os Champions também enfatizam a necessidade de fortalecer a fiscalização das proteções existentes, garantir recursos adicionais para a gestão e aplicar o modelo Hope Spot como ferramenta técnica no planejamento da expansão das áreas marinhas protegidas atualmente em discussão por órgãos brasileiros.
Para os Champions, o reconhecimento de Fernando de Noronha como Hope Spot não é apenas um reconhecimento de sua importância global, mas também um chamado para colocar a conservação no centro do futuro da ilha. Enfrentando as ameaças do crescimento desordenado, das espécies invasoras e do turismo insustentável, essa designação pode ajudar a transformar o arquipélago em um modelo de equilíbrio — onde a gestão ecológica assegure que Fernando de Noronha continue sendo um santuário da biodiversidade e um farol de esperança para as futuras gerações.


Foto: Crédito Pedro Menezes

Sobre a Mission Blue
Liderada pela lendária oceanógrafa Dra. Sylvia Earle, a Mission Blue une uma coalizão global para inspirar uma onda de conscientização pública, acesso e apoio a uma rede mundial de áreas marinhas protegidas — os Hope Spots. Sob a liderança da Dra. Earle, a equipe da Mission Blue realiza campanhas de comunicação que elevam os Hope Spots ao palco mundial por meio de documentários, redes sociais, mídia tradicional e ferramentas inovadoras como o Google Earth. A Mission Blue realiza expedições oceânicas regulares que lançam luz sobre esses ecossistemas vitais e fortalecem o apoio à sua proteção. A organização também apoia o trabalho de ONGs de conservação em todo o mundo que compartilham a missão de ampliar o apoio público à proteção dos oceanos.

Sobre o Instituto Vida no Oceano
O Instituto Vida no Oceano (IVO) é uma organização sem fins lucrativos fundada por pesquisadores e comunicadores dedicados à conservação marinha, baseada em três pilares principais: pesquisa científica que embasa ações práticas; comunicação com a sociedade sustentada por dados científicos de alta qualidade; e o apoio ao desenvolvimento socioeconômico sustentável, com ênfase em um turismo consciente e de baixo impacto como ferramenta de sensibilização e engajamento. A principal iniciativa do IVO é o Projeto Tubarões e Raias de Noronha (@tubaroes.raias.noronha), focado nos elasmobrânquios. Diversos estudos em andamento se complementam para construir uma compreensão mais completa desse grupo no arquipélago, ao mesmo tempo em que fornecem informações essenciais para a gestão local e apoiam esforços contínuos de divulgação, engajamento comunitário, capacitação profissional e muito mais. As iniciativas de Ciência Cidadã do IVO receberam reconhecimento internacional da UNESCO por meio do selo Green Citizens.

Sobre o Projeto Tamar
A Fundação Projeto Tamar atua no litoral brasileiro desde a década de 1980 com a missão de promover a recuperação das populações de tartarugas marinhas por meio da pesquisa, conservação e inclusão social. É uma organização privada, sem fins lucrativos, com geração própria de recursos (autossustentabilidade) e coexecutora do PAN – Plano de Ação Nacional para a Conservação das Tartarugas Marinhas no Brasil, do ICMBio/MMA, sendo responsável por grande parte das ações planejadas. Atua em 22 localidades distribuídas por oito estados brasileiros, incluindo áreas costeiras e ilhas oceânicas: Rio Grande do Norte, Pernambuco (Fernando de Noronha – FEN), Sergipe, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina. Fernando de Noronha é uma importante área de alimentação para duas espécies — Chelonia mydas (tartaruga-verde) e Eretmochelys imbricata (tartaruga-de-pente) — e de reprodução para Chelonia mydas. A Fundação Projeto Tamar desenvolve atividades de pesquisa, manejo e proteção dascinco espécies de tartarugas marinhas encontradas no Brasil, além de ações de engajamento comunitário, inclusão social, educação ambiental, promoção da cultura local e geração de trabalho e renda.

Edição por Julia Marques

Data de publicação desta Matéria 31-10-2025
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